Valeria Sarmiento: A situação atual na Europa dá-me muita angústia

Huellas, de Valeria Sarmiento, foi apresentado na Mostra que Somos Humanos, a decorrer no ISCSP, no dia 28. Trata-se de um documentário de homenagem às vítimas da ditadura militar no Chile que, ao mesmo tempo, abre um caminho para algo universal. O filme permite uma reflexão sobre o passado, mas que afeta também o futuro. A projeção foi acompanhada por um cinedebate com a realizadora.

Pela primeira vez, assume-se sua a identidade para falar do seu trabalho, em particular sobre a ditadura militar chilena. Como sentiu essa necessidade?
Quis marcar os 50 anos do golpe militar no Chile. Quis falar com as vítimas e registar a memória dessas pessoas. Além disso, para mim foi necessário voltar ao meu país à procura dos traços dessa tragédia, de traços históricos, de traços do nosso passado, mas que se encontram no presente.

Foi assim que introduziu o tema do colonialismo no filme? O que acha que a História pode nos ensinar?
A História deve ensinar. A situação atual na Europa dá-me muita angústia. Por exemplo, a força crescente da estrema direita. É algo que me assusta imenso. Acho importante conhecer muito bem a História para não se cometerem os mesmos erros.

Como recorda a vida intensa com Raul Ruiz, o seu companheiro de sempre? Como foi viver aqueles tempos?
Ele passou muito mal. Ficou exilado. Para ele e os seus colegas foi muito-muito duro. Raul sempre esteve muito ligado à política. Mas conseguia sempre incluir um elemento de algum humor. É um pouco a memória dele que quis incluir neste filme.

O passado está no nosso presente e projeta-se, ao mesmo tempo, no futuro. Como considera o seu trabalho no sentido de instrumento de reparação da memória traumática?
Para mim é importantíssimo trabalhar com a memória, com os arquivos. Isso ajuda-nos a transmitir o conhecimento para as novas gerações, explicar o que se passou para não acontecer nada igual.

Como foi o percurso do filme Huellas no Chile?
Fiquei muito feliz porque todas pessoas no país aceitaram o filme e participaram. O filme foi exibido em várias plataformas e teve uma boa divulgação.

Considero que este filme tem um potencial preventivo. Vi muito mais do que o Chile e o trauma do Chile. Vi tudo que acontece pelo mundo inteiro.  
Foi mesmo para isso que eu fiz este filme. Para prevenir muitas coisas. Porque sinto que o mundo não está nada bem.

Scroll to Top